VALORAÇÃO DO RISCO

A análise do risco é conduzida com o uso de ferramentas específicas desenvolvidas para o propósito pretendido. Assim temos disponível um leque de ferramentas de aplicação específica. Da mesma maneira, dependendo do propósito da análise do risco e da própria ferramenta de análise adotada, a valoração do risco pode ser feita de várias maneiras. Vamos compreender que a etapa de considerar os controles e barreiras pode estar intrínseca ao uso da ferramenta de análise de risco.

Para uma melhor compreensão e assimilação das ferramentas de análise de risco e principalmente da valoração do risco é importante enfatizar o conceito de risco. Risco é uma grandeza que resulta da combinação da Probabilidade de ocorrência de um evento indesejável, associado à sua consequência.

Embora a valoração do risco seja subsequente à análise e algumas ferramentas de análise de risco utilizam a valoração do risco para priorização e/ou para verificação da necessidade de controles adicionais, vamos abordar este tema antes de apresentar as ferramentas.

A valoração do risco tem como propósito colocar o risco numa escala conhecida de modo que seja possível orientar as decisões quanto a incluir mais controles, melhorar os controles existentes, modificar controles ou mesmo eliminar a energia envolvida e consequentemente, a condição perigosa. Em algumas situações a valoração, além de ser instrumento de priorização também serve como meio para definir níveis de tolerabilidade.

Risco é uma grandeza que resulta da combinação da Probabilidade de ocorrência de um evento indesejável, associado à sua consequência.

Risco é uma grandeza que resulta da combinação da Probabilidade de ocorrência de um evento indesejável, associado à sua consequência.

Considerando que o risco é uma função da probabilidade de ocorrência de um evento indesejado associado à consequência potencial deste evento, a valoração do risco requer a valoração das suas variáveis e, portanto, é necessário valorar a probabilidade de ocorrência do evento indesejado e também a sua consequência. No decorrer da discussão dos métodos de valoração do risco voltamos e apresentamos os critérios de valoração da probabilidade e da consequência.

A valoração do risco pode ser feita de três maneiras diferentes:

  • Valoração qualitativa
  • Valoração quantitativa
  • Valoração semi-quantitativa

VALORACÃO QUALITATIVA DO RISCO

A forma mais simples de se valorar o risco é a qualitativa. Nesta forma de avaliação adota-se atributos para o risco: Baixo, Médio e Alto, por exemplo. Esta classificação precisa necessariamente de algum critério para que não seja tão subjetiva. Deste modo é necessário de se construir uma matriz ou mesmo utilizar alguma das matrizes publicadas nas quais são definidos os critérios para a avaliação da probabilidade e da consequência. A combinação da avaliação de probabilidade de ocorrência do evento e da sua consequência é que define a classe de risco. No entanto, algumas ferramentas de análise utilizam apenas a consequência potencial do evento indesejado para selecionar aqueles considerados prioritários o que também constitui uma valoração qualitativa. A figura a seguir mostra uma matriz típica de avaliação qualitativa do risco.

 

Matriz típica de valoração qualitativa do risco.

Matriz típica de valoração qualitativa do risco.

Certamente que na seleção da classe de probabilidade e da classe de consequência nas quais vamos situar o evento indesejado existe uma descrição de critérios para serem considerados quando da classificação de ambos. A combinação das classes de probabilidade e de consequência é feita de modo que o resultado seja, pelo menos visivelmente coerente, de modo que um evento indesejável com probabilidade alta de ocorrência e consequência catastrófica não pode ser classificado como um evento de risco baixo. Embora simples e aparentemente subjetivo o uso de matriz como esta às vezes é suficiente para o propósito desejado, neste caso, selecionar os eventos prioritários.

 

VALORAÇÃO QUANTITATIVA DO RISCO

A valoração quantitativa mais comumente utilizada em segurança é aquela que a literatura denomina IRPA (Individual Risk Per Annum) ou Risco individual anual. Esta forma de expressão do risco é o quociente entre o número de eventos ocorridos em relação ao número total de pessoas expostas ao ano. Por exemplo, o risco de uma fatalidade por raio de descarga atmosférica é 1 em 10 milhões ou 10-7 , o que significa uma pessoa morta a cada 10 milhões de raios. Nestes termos, a taxa de frequência de acidentes é uma forma de valorar o risco, desde que a consequência seja referenciada. Por exemplo, a taxa de fatalidade numa indústria no ano de 1,5 significa 1,5 fatalidades a cada 1,0 milhão de homens-hora trabalhadas.

 

Esta forma de valoração permite por exemplo se avaliar o risco de 10 pessoas morrerem na queda de um avião, por exemplo ou o risco de todos os passageiros morrerem numa queda de um avião.

A valoração permite  se avaliar o risco de 10 pessoas ou todos os passageiros morrerem na queda de um avião.

Em alguns cenários é usual valorar o risco adotando o que é denominado PLL (Potential Loss of Life) ou Perda Potencial de vida definido como o número esperado de fatalidades em um grupo ou localidade específica por ano. Esta forma de valoração permite por exemplo se avaliar o risco de 10 pessoas morrerem na queda de um avião, por exemplo ou o risco de todos os passageiros morrerem numa queda de um avião.

 

De qualquer maneira, em ambos os casos, a valoração do risco é obtida olhando para o passado e em função de eventos ocorridos. Por esta razão é que os critérios publicados de avaliação de probabilidade nas matrizes de risco conhecidas são comumente descritos referenciando ao passado ou a uma avaliação subjetiva de possibilidade futura. A tabela seguinte ilustra um dos critérios de classificação de probabilidade.

 

Exemplo de critério de classificação de probabilidade.

Exemplo de critério de classificação de probabilidade.

O mesmo ocorre com a classificação da consequência. Na maioria das matrizes a escala de consequência está associada à extensão da lesão ou da doença, no caso de segurança e saúde nas quais a pior classe de consequência é a perda de vida e a classe mais inferior refere-se a lesões típicas de primeiros- socorros.

Exemplo de avaliação de consequência.

Exemplo de avaliação de consequência.

VALORAÇÃO SEMI-QUANTITATIVA DO RISCO

Nem sempre quando precisamos valorar riscos dispomos de dados e a valoração qualitativa não serve adequadamente ao propósito desejado. Por isso, criou-se outra forma de valoração constituída de um componente qualitativo e um componente quantitativo, denominada valoração semi-quantitativa. Nesta forma de valorar o risco, o valor quantitativo não é absoluto como na valoração quantitativa, mas sim um valor relativo que permite que uma escala de risco seja definida e utilizada. A maioria das matrizes de risco trazem na sua essência uma forma semi-quantitativa de valorar o risco. A figura abaixo mostra um exemplo de uma matriz de risco que utiliza a valoração semi-quantitativa.

 

Exemplo de Matriz Semi-Quantitativa.

Exemplo de Matriz Semi-Quantitativa.

Observa-se que a escala quantitativa na matriz acima é uma escala relativa que serve apenas e tão somente para definir as classes de risco de acordo com a classe de probabilidade de ocorrência do evento indesejado e da classe de sua consequência potencial.

A maioria das matrizes semi-quantitativas citadas na literatura são também definidas como matrizes 5×5 que significa 5 classes de probabilidade e 5 classes de consequência na avaliação do risco. Matrizes de outras combinações existem, como a matriz acima mostrada ( 3×3) mas estas não são comuns.

Outra observação importante em se tratando de matriz de risco é que alguns autores atribuem pesos às classes de probabilidade e de consequência e constroem a matriz multiplicando os respectivos pesos para construir a escala relativa da matriz.

Exemplo de uma Matriz Semi-Quantitativa 5x5.

Exemplo de uma Matriz Semi-Quantitativa 5×5.

É importante salientar que uma boa parte das matrizes disponíveis utilizam a frequência de ocorrência do evento como avaliação da probabilidade a exemplo da matriz mostrada na figura acima. Não há critério objetivo na definição dos pesos das classes nestas matrizes, pois o que importa na realidade é a classificação do risco de acordo com as combinações de frequência ou probabilidade com consequência.

A pergunta que se faz neste momento é: Se é possível valorar o risco de três maneiras diferentes, quando se usa uma ou outra forma de valorar o risco? Existem pelo menos duas respostas a esta questão: pode-se escolher a forma de valorar o risco a partir do propósito da análise do risco ou a partir da ferramenta de análise escolhida para este fim.

A tabela seguinte ilustra a primeira resposta, ou seja, a seleção da forma de valorar de acordo com o propósito da análise do risco.

Seleção do método de valoração de acordo com o propósito.

Seleção do método de valoração de acordo com o propósito.

Observa-se que a valoração semi-quantitativa é aplicável a todos os propósitos e, talvez por isso seja a forma de valoração mais utilizada.

A outra forma de selecionar o método de valoração é de acordo com a ferramenta de análise do risco escolhida. Como normalmente se seleciona primeiro a ferramenta de análise, antes de valorar o risco, está acaba sendo uma forma mais simples de definir qual será o método de valoração do risco, conforme mostra a tabela a seguir.

Observa-se na tabela que algumas ferramentas só admitem uma forma de valoração do risco. Certamente que há exemplos de uso de algumas dessas ferramentas com método de valoração diferente do usual o que não é incorreto, embora não seja usual da ferramenta.

Seleção do Método de Valoração de acordo com a ferramenta de análise de risco.

Seleção do Método de Valoração de acordo com a ferramenta de análise de risco

Autor: Reginaldo Pedreira Lapa

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