O ESTADO DA ARTE NA MENSURAÇÃO DE RISCO

Mensurar o risco significa avaliar a probabilidade de ocorrência de um evento, desejável ou não e medir a sua consequência. Normalmente, a palavra risco é associada a eventos não desejáveis embora o conceito se aplica perfeitamente se quisermos avaliar o risco associado a um evento potencial desejável.

Vamos utilizar um exemplo simples para a discussão dos conceitos importantes na mensuração do risco.

Evento (indesejável): Ser atropelado por um veículo em movimento numa via pública no ato de atravessar essa via.

Cenário: Via com movimento intenso de veículos, de tráfego nos dois sentidos e velocidade permitida de até 80 km/h.

Consequência potencial: Morte

Conceito 1

Antes de falar em mensuração precisamos explorar o exemplo à luz dos conceitos importantes que envolvem valorar o risco. Para bem valorar o risco precisamos descrever claramente o evento desejável ou indesejável, o cenário no qual ele pode ocorrer e definir a consequência potencial.

No nosso exemplo, não precisamos mensurar a consequência, o que significa que o risco será expresso pela probabilidade de atropelamento no ato de atravessar a via de tráfego.

Se, ao atravessar a rua colocarmos uma venda nos olhos é QUASE CERTO que será atropelado. Neste caso estamos mensurando o risco qualitativamente usando um atributo para a magnitude do risco (Quase Certo). Se, a pessoa, antes de atravessar a rua olhar para ambos os lados para se certificar do tráfego, é PROVÁVEL que ela seja atropelada pois, ao olhar para o lado e para o outro em seguida, pode ser que a pessoa seja surpreendida por um veículo em movimento vindo da direção anterior ao olhar.

Se, ao atravessar a rua colocarmos uma venda nos olhos é QUASE CERTO que será atropelado. Neste caso estamos mensurando o risco qualitativamente usando um atributo para a magnitude do risco (Quase Certo).

Se, ao atravessar a rua colocarmos uma venda nos olhos é QUASE CERTO que será atropelado. Neste caso estamos mensurando o risco qualitativamente usando um atributo para a magnitude do risco (Quase Certo).

Suponhamos que a pessoa decidiu atravessar a via de tráfego utilizando a faixa de pedestre. Neste caso podemos dizer que é POSSÍVEL que ela seja atropelada pois, nem todos os motoristas respeitam a faixa de pedestre. Uma outra ação dessa pessoa é atravessar a via de tráfego num local onde haja semáforo para pedestre e que o faça quando o sinal de pedestre estiver permitindo a travessia. Podemos dizer que, nesta situação e POUCO PROVÁVEL que ela seja atropelada por um veículo em movimento, mas que existe a possibilidade de isto ocorrer pois sabemos que às vezes os motoristas avançam o sinal.

Por fim, vamos imaginar que a opção de atravessar a via de tráfego seja utilizando uma passarela para pedestre, daquelas suspensas sobre a via de tráfego. Neste caso podemos dizer que RARAMENTE alguém será atropelado atravessando a via de tráfego desta maneira. Digo raramente por que ainda existe a possibilidade disso ocorrer se algum veículo se chocar com a passarela.

Opção de atravessar a via de tráfego utilizando uma passarela para pedestre, RARAMENTE alguém será atropelado atravessando a via de tráfego desta maneira.

Opção de atravessar a via de tráfego utilizando uma passarela para pedestre, RARAMENTE alguém será atropelado atravessando a via de tráfego desta maneira.

Observe que utilizamos uma escala qualitativa para mensurar o risco: Quase Certo; Provável; Possível; Pouco Provável e Raro. Embora não seja uma escala quantitativa, os atributos utilizados na escala são perfeitamente assimiláveis e entendidos.

Neste exemplo podemos explorar o segundo conceito na mensuração do risco.

Conceito 2

Não faz sentido físico avaliar a probabilidade de ocorrência de um evento sem considerar as medidas de controle que podem influenciar na materialização do fato. No exemplo temos as seguintes medidas de controle:

  • olhar para ambos os lados;
  • atravessar na faixa de pedestre;
  • atravessar no sinal de pedestre; 
  • atravessar utilizando a passarela.

Certamente que colocar uma venda nos olhos para atravessar representa a ausência de controle. Embora não faça sentido, é uma pratica comum avaliar a probabilidade sem considerar os controles, conhecido e denominado vulgarmente de “Risco Puro”, o que tecnicamente não tem significado visto dessa forma. É claro que o uso de um ou mais controles atenua a probabilidade da ocorrência do evento e, portanto, é parte intrínseca da avaliação da probabilidade.

Conceito 3

O terceiro conceito importante na valoração do risco é o que se denomina na Segurança e Saúde Ocupacional de “Hierarquia de Controles”. A hierarquia de controles admite a existência de controles mais robustos e controles mais frágeis e, portanto, mais ou menos eficaz na prevenção da ocorrência do evento. No nosso exemplo, a passarela é uma medida de controle mais robusta e, portanto, mais eficaz em comparação com o ato de olhar para um lado e para outro no ato da travessia da via de tráfego.

Certamente que atravessar no semáforo para pedestre contribui substancialmente para diminuir a chance de ser atropelado por um veículo em movimento.

Certamente que atravessar no semáforo para pedestre contribui substancialmente para diminuir a chance de ser atropelado por um veículo em movimento.

Adicionalmente, podemos pensar na redundância de medidas de controle que contribui para diminuir a chance de ocorrência do evento na avaliação da probabilidade. Certamente que atravessar no semáforo para pedestre, numa faixa de pedestre e ainda olhando para os lados é uma redundância de controles que contribui substancialmente para diminuir a chance de ser atropelado por um veículo em movimento. Embora não usual, podemos estender o conceito da hierarquia de controles utilizado na Segurança e Saúde Ocupacional para as outras dimensões de Análise de Risco com as devidas adequações nas classes de controle nesta hierarquia, seja avaliando o risco ambiental ou o risco tributário, ou o financeiro ou qualquer outra dimensão.

Conceito 4

O quarto conceito é associado com a outra variável da Análise do Risco: a consequência. Observe que é possível atuar na diminuição da velocidade de tráfego na via com uso de placas de sinalização, restringindo a velocidade, por exemplo, para 40 km/h, utilizando redutores de velocidade físico ou eletrônico e mesmo radares nos locais de travessia de pessoas. Neste caso, a ação do controle se dá na consequência do evento, caso ele ocorra. Certamente que ser atropelado por um veículo à 40 km/l ou 80 km/h tem efeito na consequência potencial.

Assim, podemos dizer que ao avaliar o risco devemos não somente considerar os controles, mas atribui-lo tanto à probabilidade quanto à consequência. Denominamos isso de Classes de Controle: Controle de Prevenção que atua na probabilidade de ocorrência do evento e Controle de Recuperação que atua na consequência do evento caso ele ocorra e, em ambos os casos estaremos atuando no risco.

Conceito 5

Para concluir vamos ao quinto conceito importante na mensuração do risco. Trata-se da avaliação da consequência. Podemos pensar em avaliar a consequência sob dois focos: a pior consequência possível ou a pior consequência mais provável. Para ilustrar este conceito vamos avaliar sob estes ângulos o evento de queda de mesmo nível por escorregão, numa superfície aberta e sem obstáculos como um salão, por exemplo. A pior consequência possível é bater a cabeça ao cair, fraturar o pescoço e morrer. Porém, a pior consequência mais provável é uma luxação ou fratura. Certamente que é possível bater a cabeça e morrer, mas isto é muito raro e, na probabilidade é debitado ao acaso. Concluindo, a recomendação para avaliar a consequência é sempre procurar identificar a pior consequência mais provável ao invés da pior consequência possível. Claro que ao fazer a avaliação, a observação do cenário onde o evento pode acontecer é primordial e fundamental.

 

Autor: Reginaldo Pedreira Lapa

 

Comentários